#UnibEntrevista a Prof.ª Camila Forcellini sobre o WASM Congress (Chile)
- 09/27/2019
- Bruna Araujo
A Prof.ª Camila Forcellini, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Ibirapuera, vai apresentar o trabalho intitulado “Indicadores para uma nova arquitetura esportiva: resultados da análise comparativa entre duas arenas brasileiras” no 3º Congresso Mundial de Gestão Esportiva (WASM Congress), em Santiago (Chile), no mês de outubro.
Em entrevista exclusiva ao blog da instituição, a docente conversou sobre Arquitetura Esportiva, o desenvolvimento do trabalho, sua relação com a UNIB e quais são as expectativas para o evento.
Confira abaixo:
Você poderia contar um pouco sobre sua relação com a Universidade Ibirapuera?
Foi engraçado e rápido. Eu tinha acabado de defender minha dissertação do mestrado quando entrei na UNIB, em 2015. Até a defesa do meu mestrado eu não tinha muita pretensão de dar aulas, até porque sempre fui mais introvertida e tímida. Mas fiz um Estágio Docente e, na medida que participava da disciplina da minha orientadora, fui gostando do ambiente, das salas de aula, dos desafios acadêmicos, e o fato de você poder contribuir com o conhecimento de alguém, passar aquilo que você sabe para outra pessoa, é gratificante!
Assim que conclui o mestrado, pelo fato de ter gostado tanto da experiência, entrei em contato com alguns colegas que estudaram comigo e que lecionavam. Inclusive, uma das minhas colegas de turma lecionava na Universidade Ibirapuera. Ela passou meu contato para o antigo coordenador do curso e ele me chamou para a disciplina “Sistemas Construtivos”. Lembro que na época pensei: “Só tive uma experiência, mas tudo bem, a gente dá um jeito”.
Lógico que o começo é bem mais difícil. Eu estava começando e, às vezes, ficava sem jeito, dava uma engasgada, não lembrava de alguma coisa… tinha que estudar bastante para preparar as aulas. Com o tempo, você pega o jeito, aprende com os erros, busca outras formas de lecionar, cria uma metodologia, uma didática apropriada para a disciplina pela qual é responsável. E, como na nossa área tudo é muito prático, sempre gostei de aplicar imediatamente o conceito que é apresentado em projetos. Para mim, prática é a melhor “escola”: tem que projetar, rascunhar, prototipar, colocar a mão na massa.
Fui chamada para ser RTI em 2016…um pouquinho mais de tempo e cheguei à coordenação. Mais uma vez, tudo muito rápido!
Apesar do pouco tempo, considero que todos esses resultados são frutos de anos de muito trabalho. E sinto que na UNIB existe uma liberdade bacana para lecionar, que te permite inovar, mostrar resultados…o que gera o reconhecimento que resulta neste crescimento profissional. Nem todas as instituições fazem isso.
Arquitetura Esportiva. O que é e como é a sua relação com a área?
Eu fui atleta, tenista confederada; participei de torneios estaduais, nacionais e internacionais. Pratiquei esportes a minha vida inteira, sempre fui muito apaixonada, mas também sempre gostei muito de desenhar, de observar as construções, as paisagens urbanas…
Então, chegou um momento em que tive que escolher. Fiquei entre Arquitetura e Educação Física, mas escolhi a primeira opção. Ainda na graduação, segui competindo. Mas, por conta de várias variáveis, incluindo o preço alto de praticar tênis e a dificuldade em conciliar com os estudos, optei por deixar o esporte e seguir fazendo Arquitetura.
No curso, ainda participei dos torneios universitários e nunca parei. Aí, como eu frequentava muito esses espaços esportivos, sempre achava que faltava alguma coisa: observava que eram espaços com problemas de estrutura, manutenção, pouco estimulantes… Com o conhecimento que fui adquirindo durante o curso, comecei a pensar em trabalhar com espaços voltados para o esporte.
Fiz uma Iniciação Cientifica, um estudo comparativo entre dois clubes desportivos municipais. Ganhei bolsa e apresentei o artigo no Fórum de Pesquisa da instituição.
Segui minhas pesquisas e fiz um projeto para um centro esportivo público no meu TCC sobre. Esse trabalho final foi muito bem aceito pela minha orientadora e pela banca: consideraram um material rico e, mesmo naquela época, difícil de ser encontrado. Lembro que tive que recorrer a materiais em outras áreas, incluindo Educação Física, Pedagogia e Turismo. Na Arquitetura não havia conteúdo relevante; até tinha um ou outro projeto publicado, mas eram antigos, e faltavam dados importantes. Assim, com essa busca por informações e percebendo a existência de uma lacuna, fui criando um repertório só meu e investindo nesse caminho.
Logo depois, fiz o mestrado com o tema “A Arquitetura Esportiva no Estado de São Paulo”, um levantamento de obras entre as décadas de 50 e 70, período que teve uma produção muito grande de edifícios e espaços esportivos no estado de São Paulo. Foi um trabalho bem desgastante, mas também um tema que foi bem aceito. O que mais me surpreende é que, até hoje, é um tema muito bem aceito fora da área da Arquitetura! É raro encontrar arquitetos ou engenheiros que falam sobre isso, apenas gestores de clubes e academias, e normalmente são profissionais da área da Educação Física, ex-atletas, etc.
Então, segui por esse caminho. Tenho participado de eventos, congressos e feiras, publicado trabalhos… continuo pesquisando e estudando, inclusive no MBA que estou fazendo. A pretensão é continuar com essa linha de pesquisa também no doutorado.
As instituições abordam essa área?
Na verdade, dentro da Arquitetura não se tem nada específico. No nosso curso, por exemplo, nas disciplinas de Projetos, os alunos podem abordar sobre esse tema. Nos TCCs, temos alunos que projetaram centros esportivos, ginásios, estádios…Mas é um tipo de projeto difícil, ou seja, os alunos ficam com medo dessa falta de referências e, por isso, não investem tanto.
Ainda é uma área que permite ensaios, estudos e outras explorações. No exterior o repertório é maior, tanto que a maioria dos eventos sobre a área acontece na Europa, Austrália e Estados Unidos, lugares considerados “polos” olímpicos que estão mais acostumados e mais preocupados com isso. No Brasil, por exemplo, não houve aproveitamento quando aconteceu a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Aí complica um pouco mais; você acaba se sentindo um “peixe fora d’água” por estar tentando abordar esse assunto e ter que enfrentar as resistências.
Qual seu local esportivo favorito? (estádio, arena, centro de treinamento…)
É difícil escolher! Não existe uma arquitetura melhor, mas sim um projeto arquitetônico adequado para aquelas condições. Aquele que consegue solucionar de maneira mais assertiva os problemas (urbanos, sociais, econômicos) e se torna uma referência.
Mas um espaço esportivo que adoro, que coloco como uma referência arquitetônica, se pensarmos na época em que ele foi construído, no local e nas dimensões, é o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, obra do escritório do arquiteto Ramos de Azevedo em parceria com a construtora Severo & Villares. É um marco urbano, um dos pontos mais bonitos da cidade!
E lá fora? Você acredita que existe uma estrutura adequada também?
Lá fora tem muitos bons projetos, citar apenas um é complicado. Mas eu gosto muito do Estádio Municipal de Braga, em Portugal, obra do arquiteto português Eduardo Souto de Moura. Ele respeita as condições urbanas e tenta adequar a edificação ao meio ambiente, fazendo uma integração da melhor forma possível… algo bem difícil de se encontrar em estádios, por serem edificações monumentais.
Já em termos de ousadia formal, o Estádio Nacional de Pequim, do escritório Herzog & De Meuron, só foi possível graças a evolução da tecnologia, tanto da construção quanto de processo de projeto. Foi realmente um grande desafio que se transformou numa obra muito icônica.
Você acredita que é importante ter um vínculo com o esporte para trabalhar na área? Por exemplo, gostar de pesquisar e/ou acompanhar partidas, praticar algum esporte?
Brincamos que o arquiteto precisa saber um pouquinho de tudo para fazer um projeto. Às vezes é preciso ser psicólogo, astrônomo, tenista, astrólogo, médico, enfermeiro…dependendo da situação, é preciso entrar naquele universo para captar tudo o que é necessário, e principalmente entender os problemas que precisam ser resolvidos. E, com certeza, o fato de eu ter me envolvido com o esporte desde muito cedo acabou despertando esse olhar um pouco mais apurado a respeito dos espaços esportivos.
Como surgiu a ideia do trabalho “Indicadores para uma nova arquitetura esportiva: resultados da análise comparativa entre duas arenas brasileiras”?
Com o advento do avanço da tecnologia da comunicação e da informação, acabamos frequentando os espaços virtuais. Assim, é interessante fazermos um paradoxo “Espaço Real x Espaço Virtual”. Os espaços esportivos, por serem construções muito grandes e destinadas a eventos, por vezes, esporádicos, ficam subutilizados ou abandonados quando as competições (Jogos Olímpicos, Copa, etc.) terminam. Por exemplo, as instalações no Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016 foram abandonadas porque não foram projetadas para se readaptarem, possibilitando receber outras competições e eventos.
De acordo com o que tenho pesquisado e acompanhado com relação a evolução dos espaços esportivos, a tendência é que eles sejam também multifuncionais, que não atendam somente as demandas esportivas, mas que sirvam para outras atividades. Hoje falamos que o estádio virou uma Arena Multiuso por abrigar shows, congressos e outros grandes eventos. O tema do trabalho partiu desse pressuposto: quais pontos devemos pensar para conceber os espaços esportivos contemporâneos? Será que eles realmente precisam ter 100 mil lugares numa arquibancada? Essas perguntas são importantes porque hoje em dia é possível acompanhar em tempo real quaisquer eventos; você não precisa estar realmente lá.
Os espaços de apoio não são mais apenas banheiros e lanchonetes, mas também lounges para pré e pós-evento, espaço para crianças e para a “terceira idade”, áreas de ativação dos patrocinadores, lojas, cinco ou mais restaurantes (alguns até de renomados chefs), snacks bar, etc. A morfologia desses espaços também vai mudar. Então, sabendo dessa evolução nos estádios e arenas, a proposta do trabalho é justamente pegar dois edifícios contemporâneos e fazer uma análise comparativa entre eles para chegar num resultado, averiguando se eles realmente estão seguindo uma determinada linha de parâmetros construtivos ou se vão se tornar outra coisa: talvez o termo “edifício esportivo”, para esse tipo de edificação, não se encaixe mais.
Na verdade, é mais uma hipótese do que vai acontecer daqui para frente, a partir desse levantamento do estudo espacial. Com a análise comparativa, cheguei a alguns indicadores de projetos que coincidem e que podem indicar uma tendência para as próximas arenas que serão construídas ou adaptadas.
Quais foram as arenas brasileiras explorados no trabalho?
O Allianz Parque, em São Paulo, e a Arena da Baixada, em Curitiba. São as duas arenas mais modernas do país. Na arquitetura, quando fazemos uma análise de obra, deve-se usar a mesma tipologia de projeto e, para obter resultados mais precisos, da mesma época. Inclusive, elas têm soluções tecnológicas semelhantes. Então, validei o trabalho com dois exemplos reais.
Você encontrou dificuldades no desenvolvimento do trabalho?
Desde buscar referências para embasar a hipótese, até o deslocamento e analisar in loco… nem sempre essas arenas são abertas ao público. Como são particulares, é comum não termos acesso fora dos dias de visitas (os tours); não podermos ir em todas as áreas, tirar fotos…existem algumas restrições. Por já ter feito isso várias vezes, aprendi a driblar as dificuldades.
Quando você precisa fazer a análise do projeto, é normal recorrer aos documentos históricos, peças gráficas, imagens e outros materiais, mas também é interessante ir até o local, ver com os próprios olhos e sentir o ambiente. Também fiz essa “pesquisa de campo” em meu mestrado: viajei para alguns lugares, conversei com as pessoas e visitei áreas que não são abertas ao público. Às vezes demora, é um pouquinho complicado, um trabalho de formiguinha…mas é uma delícia, vale muito a pena!
Como surgiu a oportunidade de participar do Congresso?
Como acompanho todas as associações de Gestão e Marketing Esportivo, recebo sempre os informativos. Inclusive, eu já havia participado e exposto trabalhos no Congresso Brasileiro de Gestão Esportiva e no Congresso Latino-Americano de Gestão e Marketing Esportivo. Aí chegou a oportunidade de participar do 3º Congresso Mundial de Gestão Esportiva (WASM Congress) e não pensei duas vezes. O trabalho foi submetido e aceito.
Como vai ser a apresentação do trabalho?
O Congresso Mundial vai ser realizado na Universidad Santo Tomás, em Santiago, no Chile. Os responsáveis ainda vão formalizar toda a programação do evento, mas já sei que vão ser sessões divididas por temática. Estarei na sessão de abordará sobre “Gestão das Instalações Esportivas”, apresentando meu trabalho para uma plateia cujo tamanho não faço ideia!
O trabalho foi submetido em inglês e a apresentação oral será em inglês também. Cerca de 40 ou mais países vão estar representados. Todas as despesas serão por minha conta. Estou muito feliz e orgulhosa de ser reconhecida por minhas pesquisas nesta área.
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